sábado, 29 de maio de 2010

E se Joana armou a arapuca que armou para ser minha personagem... quero dizer que conseguiu. Escrevo outro livro para ela, por causa dela e porque, afinal de contas, criamos juntos uma ficção e não uma mentira... e foi essa maldita ficção que trepou comigo e me prometeu uma vida de miudezas, peixes salmonados, aluguel dividido, filhos, bichos, feira na Serzedelo Correia e mãos dadas para sempre.
(...)
Queria, como todo penabundeado, que ela sofresse minha dor... que a falta tivesse o mínimo de correspondência... mas nem isso consigo: querer. Não tenho cacife para bancar a falta que ela me faz. No meu caso, seria quase impossível cogitar um romantismo histérico; para tanto, eu precisaria voltar a ser o cara de antes, aquele que escrevia para se vingar e/ou acertar as contas. Esse cara esgotou-se dentro dela, e foi enganado.
Não sei se agora ela está se divertindo. Ou mesmo se teria se divertido à minha custa. Isso não importa. Eu não devia sofrer e amar - nem por mim, nem por Joana. Ela me abandonou. Me devolveu a mim mesmo, e o que é muito pior: em dobro. Mas o que faço se a dor já não me diz respeito? Se não sou nem metade daquele sujeito de antes? - Marcelo Mirisola (Joana a Contragosto)

4 comentários:

♪ Sil disse...

Que texto lindooooooo!
Tava com saudade de passar aqui!
Um abraço grande!!!

Carol disse...

"Mas o que faço se a dor já não me diz respeito?" Nossa, demais!

Passar pelo seu blog é sempre uma delícia! Os textos que você posta são sempre tão tocantes.

:*

Felicidade Clandestina disse...

não conhecia o moço...


gostei demais do texto.
beijo minha flor do sertão.

André Gomes disse...

Link pra tu... Gostei demais dessa entrevista, acho que na parte do Lobo Antunes tu vai se lembrar de certo conto da Diana Caçadora. Deve ser o primeiro.

http://www.jornaleco.net/Entrevistas/MarciaDenser/marcia.htm