domingo, 21 de março de 2010

Deve haver alguma coisa nos livros, coisas que não podemos imaginar, para levar uma mulher a ficar numa casa em chamas; tem de haver alguma coisa. Ninguém se mata assim a troco de nada.(...) E pensei nos livros. E pela primeira vez percebi que havia um homem por trás de cada um dos livros. Um homem teve de concebê-los. Um homem teve de gastar muito tempo para colocá-los no papel. E isso nunca havia me passado pela cabeça. - Ray Bradbury (Fahrenheit 451)
Em 1933, quando os nazistas queimaram em praça publica livros de escritores e intelectuais como Marx, Kafka, Thomas Mann, Albert Einstein e Freud, o criador da pscanálise fez o seguinte comentário a seu amigo Ernest Jones: "Que progresso estamos fazendo. Na Idade Média, teriam queimado a mim; hoje em dia, eles se contentam em queimar meus livros".
Deixando de lado o fato de que a ironia de Freud logo se tornaria ingênua diante dos fornos crematórios de Auschiwitz e Dachau, podemos nos perguntar: o que aconteceria se os livros fossem incinerados, varridos da face da Terra até o ponto em que o único vestígio de milênios de tradição humanista estivesse alojada na memória de alguns poucos sobreviventes? Qual seria o proximo passo da barbárie? Queimar os próprios homens, para apagar de vez a memória dos livros?

- Manuel da Costa Pinto (Prefácio de Fahrenheit 451 - Ray Bradbury)

Foto: Ray Bradbury

sábado, 20 de março de 2010

"... tive vontade de sentar na calçada da rua Augusta e chorar, mas preferi entrar numa livraria, comprar um caderno lindo e anotar sonhos". - Caio Fernando Abreu


Sempre ele...

quinta-feira, 18 de março de 2010

“Quando quero ler um livro, eu mesmo escrevo”. Eu queria ter dito isso. Eu queria poder escrever. Mas em mim só encontro o silêncio. E por isso, eu não sei escrever. Escrever, é claro que eu sei. Só não sei escrever um livro. Não consigo encontrar as palavras. Não consigo encontrar as palavras, nas palavras. Só encontro a minha voz, no que penso. Mas o que penso, ninguém ouve. O que eu penso é silêncio. Então eu me calo. O silêncio é a minha voz.
O silêncio é a voz que eu calo.
O silêncio é a voz que eu guardo.
O silêncio, é lá onde eu moro.
O silêncio sou eu.
- Lourenço Mutarelli, in “O Cheiro do Ralo”


'Há sempre um pouco de loucura no amor, mas há sempre um pouco de razão na loucura' - Professor Schianberg citando Nietzsche - para depois contestá-lo, lembrando que na loucura dos amores contrariados não há espaço nenhum para a razão, apenas para mais loucura. - Marçal Aquino

segunda-feira, 15 de março de 2010

Queremos o que não podemos ter, diz o professor Schianberg, o mais obscuro dos filósofos do amor. É normal, saudável. O que diferencia uma pessoa de outra, ele acrescenta, é o quanto cada um quer o que não pode ter. Nossa ração de poeira das estrelas. - Marçal Aquino (Eu receberia as piores notícias dos seus lindos lábios)
Estranho é que nao escolhi. Não consigo precisar o momento em que escolhi. Nem isso, nem qualquer outra coisa, nem nada. Foram me arrastando. Não houve aquele momento em que você pode decidir se vai em frente, se volta atrás, se vira à esquerda ou à direita. Se houve, eu não lembro. Tenho a impressão que a vida, as coisas foram me levando. Levando em frente, levando embora, levando aos trancos, de qualquer jeito. Sem se importarem se eu não queria mais ir. Agora olho em volta e não tenho certeza se gostaria mesmo de estar aqui. Só sei que dentro de mim tem uma coisa pronta, esperando acontecer. - Caio Fernando Abreu (Pela Noite)

sexta-feira, 12 de março de 2010

Se nos encontramos por acaso, porque insisto, então, em não nos perder também por acaso?
(...)
Em que momento teremo nos perdido, em que olhar, em que noite, em que palavra? Em que piada sem graça, em que gozo forçado, em que indelicadeza? Em que desejo mal realizado? Em que exato momento nosso amor foi-se, "fodeu-se"? Que horas marcava o relógio, você viu? Eu não. - Nilza Rezende (Por Acaso)
Sim, tenho medo de voltar a falar de amor, medo das histórias que se repetem (e talvez mais medo ainda das história que não se repetem), medo de ouvir a mesma música, medo de sentir as mesmas coisas. Sempre me intriguei com isso: as mesmas coisas acontecendo às pessoas, transformando as pessoas nas mesmas pessoas.
(...)
E nunca poderia ter te amado, talvez você também nunca pudesse ter me amado, então, porquê? Onde foi mesmo? Tolice achar que os opostos se atraem; não, opostos não se atraem, opostos não se fazem bem, a bela e a fera só se encontram em dolby stereo. E cinema é cinema. Mas eu - e você também - caímos na doce e suave armadilha e acreditamos que nosso mix, como dizem os bacanas, era bacana, era moderno, era perfeito. Peça em três atos. Tese, antítese, síntese. Trilogia, santíssima trindade. Pai, mãe e filho. E o espírito santo que nos proteja. - Nilza Rezende (Por Acaso)

quarta-feira, 10 de março de 2010

O Beijo - Gustav Klimt

Distraídos, os olhos erravam à toa pelos quatro cantos. Na parede atrás do sofá Santiago viu então, pela primeira vez, uma grande reprodução colorida e vertical de um quadro onde um homem beijava uma mulher. Podia-se distinguir apenas os cabelos dele, muito pretos e crespos, com uma nesga de rosto moreno afundando na pele branca da mulher. Dela, via os olhos fechados numa expressão menos de prazer que de paz, pequeninhas estrelas brancas e azuis emaranhadas no cabelo. E aquela chuva de ouro ao fundo, derramada também pelos longos mantos amarelos que vestiam, pisando flores miudinhas. Tão claro, tudo, mancha ofuscante de sol no meio da parede da sala branca. - Caio Fernando Abreu (Pela Noite - Triângulo das Àguas)










Gustav Klimt

quarta-feira, 3 de março de 2010

The Paradise Suite - Closer (2004)

Larry - Ela nem quer me ver. Você sente o mesmo, eu sei.
Alice - Não pode chorar aqui.
Larry - Me abrace. Deixe-me abraça-la.
Alice - É proibido me tocar.
Larry - Venha para casa comigo. É seguro. Deixe-me tomar conta de você.
Alice - Não precido que cuidem de mim.
Larry - Todos precisam ser cuidados.
Alice - Eu nao sou sua trepada de vingança!
Larry - Eu te pago.
Alice - Não preciso do seu dinheiro.
Larry - Você está com meu dinheiro.
Alice - Obrigada.
Larry - Obrigada... isso é algum tipo de regra?
Alice - Só estou sendo educada.
Larry - Tem muitos bebes chorões adultos por aqui?
Alice - Problemas da profissão.
Larry - Já desejou um cliente?
Alice [se aproximando] - Sim...
Larry - Pare de me fazer sofrer. Você me deseja? Porque eu estou ficando perdido com meus sentimentos por você.
Alice - Sentimentos?!
Larry - Seja o que for.
Alice - Não. Eu não te desejo.
Larry - Obrigado. Sinceramente, obrigado pela honestidade. Voces acham que não nos deram nada. Acha que porque não nos amam ou não nos desejam, ou até não gostam da gente, vocês acham que ganharam.
Alice - Isso não é uma guerra.
[Larry dá uma risada sarcástica] - Se eu pedisse para voce tirar a roupa agora mesmo, voce tiraria?
Alice - Claro. Quer?
Larry - Nao. Alice, diga-me algo verdeiro.
Alice - Mentir é a coisa mais divertida que uma garota pode fazer sem precisar tirar a roupa. Mas é melhor se tirar.
Larry - Você são frias. Frias de coração.

Tati Bernardi

"Eu quis que ele não soubesse meu nome, depois quis ter o dele logo depois do meu."


















Le fabuleux destin d'amélie poulain