sábado, 29 de maio de 2010

E se Joana armou a arapuca que armou para ser minha personagem... quero dizer que conseguiu. Escrevo outro livro para ela, por causa dela e porque, afinal de contas, criamos juntos uma ficção e não uma mentira... e foi essa maldita ficção que trepou comigo e me prometeu uma vida de miudezas, peixes salmonados, aluguel dividido, filhos, bichos, feira na Serzedelo Correia e mãos dadas para sempre.
(...)
Queria, como todo penabundeado, que ela sofresse minha dor... que a falta tivesse o mínimo de correspondência... mas nem isso consigo: querer. Não tenho cacife para bancar a falta que ela me faz. No meu caso, seria quase impossível cogitar um romantismo histérico; para tanto, eu precisaria voltar a ser o cara de antes, aquele que escrevia para se vingar e/ou acertar as contas. Esse cara esgotou-se dentro dela, e foi enganado.
Não sei se agora ela está se divertindo. Ou mesmo se teria se divertido à minha custa. Isso não importa. Eu não devia sofrer e amar - nem por mim, nem por Joana. Ela me abandonou. Me devolveu a mim mesmo, e o que é muito pior: em dobro. Mas o que faço se a dor já não me diz respeito? Se não sou nem metade daquele sujeito de antes? - Marcelo Mirisola (Joana a Contragosto)

sexta-feira, 28 de maio de 2010

A reação de Silas quando viu minha fotografia: não imaginava que mulheres talentosas pudessem ser jovens e bonitas, precisaria rever seus conceitos etc.

Conceitos? Pois sim. Urgentemente, pensei, você ainda não viu nada, darling, um sujeito com um mínimo de bom-senso não se meteria comigo. Felizmente é o que a esmagadora maioria tem demonstrado. Eu seria uma boa garota, se me dessem uma chance. Claro. Abra o dicionário, garota, e procura a letra "t", de trouxa. - Márcia Denser (Diana Caçadora - Wellcome to Diana)

Você não está xavecando a Lígia Fagundes, gato!

Gatos - Bigodes ao Léu - Laerte
Hoje decidi mostrar esse livro do Laerte, adoro os traços dele, o humor irônico, gatos...

Sou apaixonada pela Gata, ela é tão engraçada, nao sei dizer se eu vejo muita graça exatamente por eu sempre ter tido gatos em casa, fato é que o Laerte é incrivel, um dos meus quadrinistas preferidos...


Para saber mais sobre o livro é só ir ao site da editora Devir, lá encontram-se outros livros do mesmo autor.

quinta-feira, 27 de maio de 2010

O que é meu deve estar tão bem guardado que nem sei mais por onde procurar.
Sem querer ser injusta com a vida, o destino, Deus, ou seja lá o que for, mas é assim que me parece.

"Confesso! Às vezes tenho vontade de sair por aí destruindo corações, pisando em sentimentos alheios ou sei lá, alguma coisa que me faça realmente merecer esse meu sofrimento no amor." - Caio... sim, o Fernando Abreu.

E esse meu desarranjo nao é a respeito do amor. Não é SÓ a respeito de amor.
Encontrei um livro da Marcia Denser hoje na biblioteca, fiquei feliz.
Tenho preguiça do twitter, e estou divagando no blog às 4:44 da manhã... acho que vou jogar na loto, hein!!

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Quero muito essa xícara...!


LORELAI: Por favor, Luke. Por favor, por favor, por favor.
LUKE: Quantas xícaras você já tomou essa manhã?
LORELAI: Nenhuma.
LUKE: Muitas...
LORELAI: Cinco, mas as suas são melhores.
LUKE: Você sem problema.
LORELAI: Sim, eu tenho.
[Luke enche a xícara]LUKE: Viciada.
LORELAI: Anjo, você tem asas, baby!
Esse é o primeiro diálogo da primeira cena da minha série preferida: Gilmore Girls! Que saudade da Lorelai e da Rory!

terça-feira, 25 de maio de 2010

terça-feira, 18 de maio de 2010

(há um cachorro quase imperceptivel com essa moça da foto)

Nunca se poderá determinar com certeza total em que medida nosso relacionamento com o outro é o resultado de nossos sentimentos, de nosso amor, de nosso não-amor, de nossa complacência, ou de nosso ódio, e em que medida ele é determinado de saída pelas relações de força entre os indivíduos.
(...)
Tenho sempre diante dos olhos Tereza sentada sobre um tronco, acariciando a cabeça de Karenin, e pensando no desvio da humanidade. - Milan Kundera (A Isustentável Leveza do Ser)

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Me vi muitas e muitas vezes em Tereza nesse livro, na sua forma de amar, de sentir, de viver... Nem queria...

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Marcia Denser,

O que o leitor faria hoje com Lispector viva? O que o leitor faria hoje com Hilda Hilst viva?

Mas as mortas, por mais transgressoras em suas histórias, sao bem-comportadas, hein?

Você é um mito da literatura brasileira. E engasgada de fertilidade, totalmente viva. E nao sabemos o que fazer com voce.


(Perceve que fui machista, eu acabei a comparando com mulheres, não com escritores homens? Como se nao pudesse umbrear nomes femininos com masculinos... Mas - calma- as mulheres vão aonde os homens tem medo de entrar: no próprio corpo.)
- Fabrício Carpinejar [Prefácio de Toda Prosa II - Obra Escolhida - Marcia Denser]
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Conheci a escritora Marcia Denser em uma coletânea de contos eróticos que certa vez peguei emprestado na biblioteca. Suas palavras me fisgaram de imediato e logo fui atrás de outros livros dela, infelizmente sao muito difíceis de serem encontrados para empréstimo. Para minha surpresa hoje encontrei um livro dela numa biblioteca ambulante em um local totalmente inesperado, passei duas horas que eu dispunha para tentar absorver o máximo que eu podia.
Marcia Denser me dá fome e orgulho e altivez...
Então é comemorar e compreender, comemorar e compreender e arder e queimar e murmurar roucamente (porque estava resfriada de tantas curtiçoes) que te amo, te amo, te amo, mas nao te amo, nao é mesmo? Na cama, enquanto Gabriel armava jogos, fazia planos e o futuro e os projetos, eu ouvia - não conseguia pensar - e perdia novamente meu coraçao traiçoeiro desse braço de ferro, nesse mano a mano com a vida, vagamente pensando em como dar o fora e se ainda com alguma dignidade. Minha dignidade, no momento, era cor-de-rosa e balançava mansamente no cabide do quarto do motel, porque ventava e a janela estava aberta.
Assim nao é possível, assim nao é possível, desesperava-se Júlia a propósito dessa paixao que se multiplicava e se estendia inexoravelmente pelos trabalhos e dias e meses de êxtase e agonia.
Márcia Denser - Toda Prosa II - Obra escolhida

quarta-feira, 12 de maio de 2010

O Sorriso de Karenin

(filme - A Insustentável Leveza do Ser)
No caminho encontram uma vizinha que esta indo para o restábulo, calçada com botas de borracha. A vizinha pára: - O que aconteceu com seu cachorro? Parece que ele está mancando!
Tereza responde: - Está com câncer. Está condenado. - e sente a garganta apertar, quase nao pode falar.
A vizinha percebe a lágrima de Tereza e fica indignada: - Pelo amor de Deus, nao vai chorar por causa de um cachorro! - Não disse isso por maldade, é uma boa mulher, foi mais para consolar Tereza.(...) No entando a observaçao da vizinha lhe pareceu hostil. - Sei - responde sem prostestar, mas se apressa em dar-lhe as costas e continuar seu caminho.
Sente-se sozinha em seu amor pelo cão. Pensa com um sorriso triste que deve escondê-lo mais secretamente do que se escondesse uma infidelidade. O amor que se tem por um cachorro escandaliza. Se a vizinha ficasse sabendo que ela enganava Tomas, bateria em suas costas com ar cúmplice! - Milan Kundera (A Insustentável Leveza do Ser)
(Goya - Saturno a devorar seus filhos)
No começo do Gênese está escrito que Deus criou o homem para reinar sobre os pássaros, os peixes e os animais. É claro, o Gênese foi escrito por um homem e não por um cavalo. Nada nos garante que Deus desejasse realmente que o homem reinasse sobre as outras criaturas. É mais provavel que o homem tenha inventado Deus para santificar o poder que usurpou da vaca e do cavalo. O direito de matar um veado ou uma vaca é a única coisa sobre a qual a humanidade inteira manifesta acordo unanime, mesmo durante as guerras mais sangrentas.
Esse direito nos parece natural porque somos nós que estamos no alto da hierarquia. Mas bastaria que um terceiro entrasse no jogo, por exemplo, um visitante de outro planeta a quem Deus tivesse dito: "Tu reinarás sobre as criaturas e todas as outras estrelas", para que toda a evidencia do Gênese fosse posta em dúvida. - Milan Kundera (A Insustentável Leveza do Ser)

sábado, 8 de maio de 2010

(René Magritte)

Sou uma besta. Quando a realidade me entra pelos olhos, o meu pequeno mundo desaba.(...) Está claro que todo desarranjo é interior. Por fora devo ser um cidadão como os outros, um diminuto cidadão que vai para o trabalho maçador, um Luis da Silva qualquer. - Graciliano Ramos (Angústia)

terça-feira, 4 de maio de 2010

Niquel Náusea - Fernando Gonsales


Quadrinhos sempre foi minha paixão - antes de ler livros eu lia gibis, antes de pensar em literatura eu fazia histórias em quadrinhos. Claro que tudo isso quando eu era ainda muito pequena, no entanto minha verdadeira adoração por quadrinhos permanece.
HQ é arte sim, e ai de quem disser o contrário! Rs...
Hoje postei duas tirinhas do quadrinista Fernando Gonsales que achei muito engraçadas, pretendo postar outros mais pra frente.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Os escritores e seus gatos

Gosto muito dessa matéria do programa Entre Linhas da Tv cultura que mostra o relacionamento de vários escritores com seus bichanos. Ferreira Goulart, Lourenço Mutarelli, Luiz Ruffato aparecem entre outros...

sábado, 1 de maio de 2010

Eu não poderia receber melhor notícia

O diretor de cinema Beto Brant começou a gravação de um filme inspirado no livro "Eu Receberia as Piores Notícias de Seus Lindos Lábios" do escritor Marçal Aquino que eu tanto gosto. Parece que a atriz Camila Pitanga representará a Lavínia, a flor e a fera...

"— “Crime Delicado” e “Cão Sem Dono” nasceram enquanto eu esperava Marçal Aquino (escritor e roteirista-assinatura do cineasta) terminar de escrever o romance “Eu receberia as piores notícias de seus lindos lábios”, que a gente vai filmar em agosto, com Gustavo Machado, Camila Pitanga e Zécarlos Machado no elenco — diz Brant, lembrando que “O amor segundo B. Schianberg” é inspirado em um personagem do livro de Aquino." - Beto Brant (entrevista completa aqui)

"Em O que vemos no mundo, aprecio o capítulo em que o professor Schianberg fala da primeira vez que despimos certas mulheres. Com algumas, é sempre a primeira vez, diz o lunático mestre. Não se deve ter pressa, ele ensina no capítulo intitulado 'Vestir e despir o mundo'. Olhando aquela mulher atravessar a rua na chuva, pensei: eu daria um dedo para arrancar o vestido verde que ela está usando. Um dedo não. Dois. (E acabei dando mais. Meus ossos, todos)."
[trecho do livro "Eu Receberia As Piores Notícias Dos Seus Lindos Lábios, de Marçal Aquino, Cia. das Letras]"









(Marçal Aquino)
Sentado na cama, olhava a mulher deitada ao seu lado, que, dormindo, apertava-lhe a mão. Sentia por ela um amor inexprimível. Nesse momento ela sem duvida dormia um sono muito leve, porque abriu os olhos e olhou-o com ar espantado.

- O que você está olhando? - perguntou ela.

Sabia que não devia acorda-la, mas fazê-las adormecer. Tentou responder com palavras que fizessem nascer em seu pensamento a centelha de um novo sonho.

- Estou olhando as estrelas - respondeu.
- Nao minta, você nao está olhando as estrelas, está olhando para o chão.
- É que estamos num avião, as estrelas estão abaixo de nós.

- Ah, bem! - murmurou Tereza. Apertou com mais força a mão de Tomas e continuou a dormir. Tomas sabia que Tereza olhava agora pela janela de um avião que voava muito alto, por cima das estrelas. - Milan Kundera (A Insustentável Leveza do Ser)