sexta-feira, 14 de maio de 2010

Então é comemorar e compreender, comemorar e compreender e arder e queimar e murmurar roucamente (porque estava resfriada de tantas curtiçoes) que te amo, te amo, te amo, mas nao te amo, nao é mesmo? Na cama, enquanto Gabriel armava jogos, fazia planos e o futuro e os projetos, eu ouvia - não conseguia pensar - e perdia novamente meu coraçao traiçoeiro desse braço de ferro, nesse mano a mano com a vida, vagamente pensando em como dar o fora e se ainda com alguma dignidade. Minha dignidade, no momento, era cor-de-rosa e balançava mansamente no cabide do quarto do motel, porque ventava e a janela estava aberta.
Assim nao é possível, assim nao é possível, desesperava-se Júlia a propósito dessa paixao que se multiplicava e se estendia inexoravelmente pelos trabalhos e dias e meses de êxtase e agonia.
Márcia Denser - Toda Prosa II - Obra escolhida

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